O dia que o Cacique de Ramos parou

Primeiro, o palco vazio.
O choro incontido.
A falta mais presente que já se pôde sentir no lugar onde o sorriso e a alegria sempre foram realeza.

Nosso pandeiro-mestre silenciou. Este 15 de junho jamais será esquecido.

O dia que aguardava um dos eventos mais esperados pelos caciqueanos mensalmente foi exatamente o dia de se entender o Cacique de Ramos sem sua forma materializada.

Que a finitude é certa, todos sabem. Mas não é pela certeza de sua chegada que é possível compreendê-la, aceitá-la. Mesmo com a fé de que tudo é designado por Deus…

O anúncio foi no domingo logo cedo. E, com isso, não houve tempo para que as caravanas programadas mudassem o destino. A Diretoria de Ouro recebeu os que chegaram à quadra. No palco, somente o estandarte em luto, acompanhado pelo fiel escudeiro do nosso amado Bira.

O clima de paz pairava.
Foram abraços, acalantos… Saudade. “Sentimento raro, por ser tão contrário”.

O grupo Binguá estava presente, seria um dos convidados da roda de samba organizada para a 139ª feijoada. E foi através deles que a Diretoria permitiu que se rompesse o silêncio. Acústico, sem alarde, mas em homenagem singela à passagem do Cacique Maior.

A imprensa que foi cobrir este momento no Templo Sagrado do Samba registrou com detalhes e colheu depoimentos. Profissionais da comunicação dos veículos SBT, Record, Band, Jornal O Dia, O Globo e TV Globo comungaram com a família caciqueana o respeito, a emoção sem medida.

A tarde foi caindo com seu véu acolhedor. A equipe do Fantástico, também da Rede Globo, substituiu a que ancorou a pauta desde cedo. Às 17h, como combinado, já com os músicos da casa a postos, todos se juntaram como uma ciranda: diretores, admiradores, foliões e componentes do bloco. Amigos de uma vida inteira e novos parceiros, como Frei Gustavo, do Convento de Santo Antônio, confortaram uns aos outros.

Nayra Cezari e Márcio Nascimento tomaram a palavra para exaltar o Cacique Maior, Bira Presidente. E, ao som de “O show tem que continuar”, a capela, trouxeram aconchego aos corações e, certamente, fizeram ecoar até o céu.

Como seguir com o show sem o artista principal? Único, gigante em sua própria natureza. Beleza em gentileza. Missionário de sua legião. Presidente, líder, pai, amigo e padrinho.

Este dia nos ensinou que temos que reescrever o roteiro.
Porque o enredo perdeu seu ápice.
A batida que guiava o coração do samba agora, neste momento, é silêncio.

Mas permanecerá refletida em cada um que teve a honra de viver em seu tempo e a seu lado, em cada memória, em cada gesto.

Foi o adeus de um líder.
Mas também o início de uma missão.

O aprendizado e a escola tiveram seu mestre.
Agora é hora de provar o que se aprendeu, coletivamente:
Cuidar do legado que ele construiu com amor e união.

Não é um fim. Foi o primeiro dia sem Bira Presidente.
É um chamado para honrar o que foi e construir o que ainda pode ser.

ASCOM CACIQUE DE RAMOS
Nayra Cezari

FOTOS DA FEIJOADA